segunda-feira, junho 01, 2015

Dois Dedos de Colarinho: O Mimimi do milho na cerveja - até quando

Achei o texto de Márcio Beck bastante interessante e que pode "acalourar" (com uma loira gelada, é claro) as discussões da SOCABA na mesa do Bar:

Por Márcio Beck* - Colunista do O GLOBO

"Tentei não falar nada a respeito. Juro que tentei. Mas todo dia nas comunidades cervejeiras online é a mesma coisa. Dezenas de posts exaltando cervejas por não terem milho em sua composição, e - na melhor das hipóteses - fazendo piadas com as que têm. Na pior das hipóteses, o que se vê é uma espécie de discurso de ódio mesmo. O milho foi eleito pelos neo-cruzados da pureza cervejeira como o símbolo do que existe de errado com a cerveja. O arroz às vezes é mencionado, mas não se tornou tão icônico. Passou a ser cool falar mal dos tais "cereais não-maltados" que a indústria cervejeira coloca marotamente no rótulo, mesmo sem ser capaz de explicar tecnicamente o que eles trariam de ruim para a cerveja.

Por um motivo muito simples: o milho, ou qualquer outro cereal não-maltado, não traz nada de ruim à cerveja. Repito: nada. A única coisa que ele faz na cerveja, de fato, é fornecer açúcar para ser transformado em álcool sem adicionar o mesmo conteúdo de proteínas da cevada, o que torna o produto final mais leve - e obviamente, com menos gosto de cevada. É uma verdade dura, mas que todo cervejeiro honesto aceita: cerveja "puro malte" não é necessariamente boa e cerveja com cereal não maltado não é necessariamente ruim.

O neo-cruzado da pureza cervejeira geralmente reage com uma frase de efeito com a qual espera encerrar o assunto: "Cerveja de verdade é água, malte de cevada, lúpulo e levedura". Esta e suas variações constituem um pseudo argumento que ecoa a lei bávara de 1516, que quatro séculos depois de ser criada se tornou conhecida como "exigência de pureza" (Reinheitsgebot). Pelo que se sabe atualmente, não teve nada a ver com preocupação com a qualidade da cerveja (como já expliquei aqui), mas sim com controle de preços, taxação de matérias-primas e uma disputa política local.

O ser humano - detesto ficar repetitivo, já comentei algumas vezes, mas parece que é difícil entrar na cabeça das pessoas - vem fazendo cervejas há pelo menos 5.500 anos, de acordo com arqueólogos especializados em bebidas fermentadas, e a cevada nunca foi a única fonte de açúcares utilizada para sua produção (trigo, arroz, sorgo, milhete e outros compõem a lista). Só nos últimos 500 essa lei passou a vigorar numa região bem específica da Europa, mas infelizmente acabou se tornando um fetiche moderno e uma ferramenta de marketing das cervejarias alemãs. Se a questão for tradição e antiguidade, o uso de mel e frutas (presentes nas evidências químicas mais antigas de bebida fermentada conhecida atualmente) deveria ser obrigatório hoje em dia."

Para ler a coluna completa: http://blogs.oglobo.globo.com/dois-dedos-de-colarinho/post/o-mimimi-do-milho-na-cerveja-ate-quando.html

* Jornalista, cervejólogo e – às vezes – cervejeiro caseiro. Degustador, entusiasta e pesquisador da bebida fermentada mais consumida do mundo desde dezembro de 2005

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